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A "Accademia Del Cimento"


"Cimentare" significa "cimentar" em  latim e italiano.
Ou seja, usar o cimento para dar mais firmeza à construção.







Ferdinando II
(ou Ferdinando de Médici),
co-fundador da academia.
Porém, houve na Itália, durante o Renascimento, um grupo de cientistas que usava esse verbo com o significado de afirmação de descobertas baseadas em experiências. Isto causou grande incômodo a líderes da Igreja Católica e a governantes.
Leopoldo de Médici,
co-fundador da academia.
 
Estudos científicos 
de Leonardo Da Vinci (1452-1519)
- aqui, retratado num quadro por ele mesmo -
foram as bases 

das experiências da academia.
O Renascimento foi um período dentro da história da Europa da Idade Média que se caracterizou pela renovação do interesse popular pelas artes e por mais conhecimentos científicos. Crescia entre o povo, praticamente em todos os países, o interesse pelo direito a maiores condições de aprendizagem, de acesso à educação que até então era um privilégio reservado apenas aos líderes religiosos e às classes sociais dominantes - governantes e nobres. Felizmente, havia alguns poucos governantes e nobres que concordavam que o povo tinha esses direitos, e contribuíam para atender às suas reivindicações secretamente. Porém, quando eram descobertos, eram condenados pela Igreja e mortos nas fogueiras em praças públicas e de várias outras formas. 

Na Itália, esses movimentos se tornaram significativos a partir de 1507, na cidade de Florença. As artes e as ciências estavam cada vez mais em evidência e o interesse por elas crescia em meio à população como nunca antes. Um grupo secretamente formado por cientistas e artistas decidiu colocar à prova, através de experimentos científicos, as teorias do filósofo grego Aristóteles. Milênios antes, o grande filósofo e cientista grego havia estabelecido teorias importantes para a ciência, porém por longo tempo utilizadas de forma ignóbil apenas com o objetivo de manter privilégios para as classes sociais mais elevadas, e os líderes da Igreja Católica, que recebiam altas contribuições - inclusive em dinheiro - dessas classes, sentiam-se "incomodados" por esse movimento. 
Devido à falta de instrumentos mais adequados para observações astronômicas em sua época, Aristóteles havia concluído, equivocadamente, que o Sol girava em torno da Terra. Isto era tudo que os líderes da Igreja e a maioria dos detentores de privilégios políticos e sociais da Idade Média mais queriam: que o povo continuasse acreditando na teoria aristotélica. Isto colocava a Igreja, principalmente, numa situação privilegiadíssima. A Igreja se alto-proclamava como a verdadeira representante de Cristo na Terra. A crença de que o Sol girava em torno da Terra fazia com que a população acreditasse que nosso planeta estava no centro do Universo. Consequentemente, o fato de o povo acreditar da Igreja como "única verdadeira representante de Cristo no mundo" o fazia acreditar que os líderes dessa mesma Igreja eram uma espécie de "Senhores do Universo" assim designados por Deus. Se alguém revelasse que a Terra é que girava em torno do Sol - que hoje sabemos que é o que realmente acontece - isto faria o povo "pensar" - ou seja, descobrir - que durante séculos acreditou numa mentira sustentada pela Igreja e por governantes. 
Galleu Galilei  (1564-1642)
- retratado pelo pintor Giusto Susterman -
foi o autor da cartilha seguida pelos acadêmicos. 
A consequência disso foi trágica. Qualquer pessoa que ousasse demonstrar teorias ou descobertas contrárias a qualquer coisa que a Igreja pregava era perseguida, presa e morta. Muitas entraram para a história como "misteriosamente desaparecidas". Em Florença e em outras cidades italianas, vez por outra, homens usando roupas pretas eram vistos armados de espadas, pelas ruas, principalmente às noites. Para muitos autores, talvez esta tenha sido a origem do que hoje conhecemos como "Homens de Negro" - uma espécie de agentes secretos que, segundo eles, agem em nome de governos para que certos segredos não sejam revelados publicamente, principalmente se forem verdades.
Leonardo Da Vinci era um desses cientistas e artistas perseguidos. Era um grande pintor, escultor, urbanista, arquiteto, anatomista, inventor, etc., e por tudo isto era muito respeitado e estimado pelos habitantes de Florença - inclusive pelos membros das classes sociais mais elevadas. É bem possível que foi por isto que seus perseguidores não ousaram matá-lo: isto causaria uma grande revolta popular e um tremendo escândalo, inclusive contra a própria Igreja. Seus documentos contendo informações científicas foram queimados e lhe foi "sugerido" que ele saísse da Itália. Isto é: foi exilado de seu país.
Este foi o mesmo destino de muitos outros que ousaram contradizer as teorias aristotélicas. Segundo alguns autores, os homens de negro usavam tinham uma senha em latim: "Ipse dix it" ("Ele disse isto"). Para eles, "Ipse" ("Ele") era Aristóteles. Era como se dissessem, "Aristóteles disse isto, portanto é verdade, e basta!". Ainda assim, muitos cientistas ousaram continuar em sua missão para descobrir e revelar verdades. Para isto, começaram a buscar novos meios de se organizarem melhor, pois tinham que abandonar teorias antigas e experimentar novas. Negar conceitos anteriores não era suficiente. Era preciso provar e certificar ou descartar, depois provar e certificar ou descartar novamente, tantas vezes quanto fossem necessárias. Assim surgiu o que hoje é conhecido como "método experimental" ou "metodologia experimental", embora "método" e "metodologia" não sejam a mesma coisa - "metodologia" é o estudo dos métodos. 
Embora lutassem pelo bem de todos, esses cientistas e artistas se viram obrigados a se reunir secretamente, já que eram procurados pelos governos e pela Igreja como se fossem criminosos. Às vezes suas reuniões eram descobertas, o que comprova de forma muito obvia que havia traidores inseridos no grupo. Muitos eram assassinados no próprio local, mas sempre havia alguns que conseguiam escapar e, tempos depois, voltavam a fazer contatos por diversos meios secretos, mas sempre de formas diferentes para evitar, tanto quanto possível, que suas mensagens fossem interceptadas. Contam alguns historiadores que Leonardo Da Vinci, que por aquela ocasião estava na França, propôs que todos os que assim pudessem agir deixassem Florença, onde os riscos de mais mortes já estavam muito altos, e começassem um novo movimento a partir de um local onde a ciência pudesse progredir livremente. De Florença, de Roma e de todos os demais centros italianos, quem não seguia as teorias de Aristóteles se uniu ao movimento. 
A escolha do novo local foi feita de forma tão secreta que, a partir daí, há, até hoje, apenas teorias não comprovadas sobre onde seria. O que já foi historicamente comprovado a partir daí foi que em 1657, o príncipe Leopoldo de Médici e o grão-duque Ferdinando II fundaram a "Accademia Del Cimento" ("Academia do Cimento"), com base em princípios estabelecidos por Leonardo Da Vinci e Galileu Galilei, o astrônomo de Florença que, em 1616, foi forçado pela Igreja Católica, então governada pelo papa Urbano VIII, a negar publicamente suas descobertas para escapar da condenação à morte. O objetivo da "Accademia" era submeter à prova, de acordo com a Cartilha de Galileu, todos os princípios de filosofia natural até então aceitos com base nas simples teorias de Aristóteles. 
"Cimento" é uma palavra de origem latina como o mesmo significado de "cimento" em português como a conhecemos hoje. No  caso da academia, referia-se ao verbo "cimentar" com o sentido de "consolidar". A academia atuou descontinuadamente, certamente para escapar às perseguições com mais facilidade. Finalmente, após concluir seus trabalhos, publicou em Florença, em 1667, os "Saggi di Naturali Esperienze" ("Ensaios de Experiências Naturais"). A publicação apresentava os resultados das principais experiências realizadas durante dez anos. Os mais significativos ocorreram nas áreas de termometria, da barometria, de estudos sobre o vácuo e de novas descobertas sobre o planeta Saturno. Entretanto, as experiências que tiveram maios destaque foram as relacionadas à pressão do ar, que demoliram totalmente as ideias equivocadas até então dominantes  sobre a recusa da natureza pelo vácuo. 
Existe em Florença uma organização chamada "Instituto e Museu de História da Ciência", porém mais conhecido como "Museu Galileu". No site oficial do museu ( http://www.museogalileo.it/ ), pode-se ter acesso ao "museu virtual" e a vária seções relacionadas a ele, inclusive com muitas informações sobre a "Accademia Del Cimento". Um dos links abaixo (Museo Galileo) mostra um vídeo contando, de forma bem resumida, um pouco da história da academia. A narração - em italiano, obviamente - não menciona informação alguma sobre uma imagem que, se observada com a devida atenção, aparece com muita constância no vídeo: o formato de um cálice. Em algumas imagens, apenas um formato que faz lembrar um cálice; em outras ele está bem evidente. No texto do link, há as informações "cálice com barbatanas" e "cálice com alças, de criador desconhecido". Seria uma representação do Santo Graal? (ver "O Santo Graal", neste blogue). 

Fontes:

  • Enciclopédia Conhecer - editora Abril Cultural - São Paulo, SP. 
  • Almanaque Mundial - Mundo - Edição 2002 - editora Abril Cultural.
  • Site oficial do Instituto e Museu de História da Ciência ("Museu Galileo"), de Florença, Itália - Museo Galileo
  • Museo Galileo (Visual)

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